Santa Maria, Malafaia e Calheiros

13/02/2013 08:38 - Geral
Por Candice Almeida

Duas semanas se passaram desde o fatídico acidente/crime que vitimou mais de duas centenas de jovens, a maioria gaúchos, e que continua fazendo novas vítimas fatais.

O Brasil parou com a notícia do incêndio numa casa noturna do interior do Rio Grande do Sul no final do primeiro mês do ano. A cidade de Santa Maria, conhecida pelas universidades e clima de cidade universitária, foi tomada pela dor e revolta diante da morte negligente de seus filhos.

Esta semana morreu mais uma vítima internada, um segurança da boate, a vítima de número 239, e agora sua família sente ainda mais a dor que já é latente em inúmeros lares santa-marienses.

A mídia não noticiou outra coisa na primeira semana do incêndio, as informações foram dadas de todas as formas e por todos os vieses, desde a repercussão internacional, passando pelos acidentes idênticos em outros locais do mundo, até a repercussão nos demais estados da federação e a atuação política e administrativa na fiscalização de ambientes fechados e destinados à aglomeração pública. Tudo isso sem esquecer a dor de familiares de vítimas e arguindo, diuturnamente, sobre a culpabilidade dos envolvidos.

Nos primeiros dias tivemos que conviver com todo tipo de coisa, até com radicais religiosos a pregarem a culpa dos jovens por estarem num ambiente propício às “forças demoníacas”, pois é, apareceu de tudo.

Até que Marília Gabriela contribuiu para que Malafaia viesse à rede nacional mostrar todo seu preconceito e sua perigosa influência sobre os fieis de sua Igreja, para que o Pastor tomasse conta dos noticiários e das redes sociais. Pronto! O brasileiro, com exceção do gaúcho – penso eu –, esqueceu a dor de pais, familiares e amigos santa-marienses e passou a se dedicar aos preparativos para o carnaval.

Todos devem seguir em frente, é natural, deparar-se com tragédias, entristecer, aprender e superar é da natureza humana e, como tal, não deve ser discriminada. Entretanto, comprova o que todos sempre souberam: “a memória do povo é curta”.

Mas só é quando convém, mas quando convém a quem? Quem relembra ao povo o passado que incomoda?

Hoje vemos brasileiros indignados com Renan Calheiros na presidência do Senado, mas antes era Sarney e ambos são iguais, quem reclamou? Com isso não digo que não devam reclamar, devem sim, devem lutar para que aquela cadeira e as 80 outras no Senado, assim como as 513 na Câmara dos Deputados sejam ocupadas por pessoas íntegras e probas. E quem deve julgar é o povo, o mesmo a quem cabe dizer quem não deve mais permanecer lá.

Enfim, que a lembrança da tragédia tenha apenas perdido espaço nos noticiários nacionais, mas que continuem povoando a mente dos brasileiros para que tragédias como aquela não voltem a acontecer.

Que o Brasil continue esse país leve e festeiro, mas que a mídia continue se dedicando a relembrar o povo para que na época eleitoral ajam de forma coerente com a indignação que costuma condenar políticos nas demais épocas do ano.

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