O crime que nasce em berço esplêndido

10/01/2013 08:03 - Geral
Por Candice Almeida

As conversas em ambientes de trabalho, sociais e nos sites de relacionamentos têm girado em torno do assunto do momento: os acusados, confessos, de terem agredido os irmãos Rodrigues na orla de Maceió um dia antes da noite mais esperada do ano na “Capital do Reveillon”.

A cidade, tomada por turistas de todos os estados brasileiros e de muitos países, foi sacudida pelas notícias que circularam, primeiro, pelas redes sociais e, depois, nos sites de notícias, sobre o espancamento de dois irmãos, em princípio, gratuitamente.

As fotos provavam que houve a agressão. O tom indignado do desabafo dos irmãos e o pedido de apoio popular para que os culpados não saíssem impunes contagiou a todos que tomaram conhecimento dos fatos através das vítimas.

As discussões que se seguiram foram inúmeras, a descrição dos veículos e do perfil dos agressores dava conta de que se tratava de pessoas endinheiradas. Talvez de fora do estado, considerando-se a placa de um dos veículos e a alta temporada turística na região.

Dez dias após o crime, dois acusados se apresentaram à polícia e o nome de cinco agressores já era conhecido, deverão responder por lesão corporal e formação de quadrilha. Um dos rapazes, segundo a imprensa, já teria respondido por agressão a um menor quando também era menor.

Tomar conhecimento da identidade dos agressores causou certo desconforto à sociedade alagoana.

Afinal, é tão mais conveniente quando o criminoso é morador das grotas maceioenses ou de bairros periféricos aos centros urbanos do estado, e não seu vizinho. É tão mais conveniente quando o criminoso faz parte de uma família desestruturada, sem oportunidades, pouco estudo e sem referências morais e de bom comportamento, e não um colega de turma do seu filho. É tão mais conveniente quando o criminoso não é figura certa nas boates, nos shoppings, nas praias, nos passeios na lagoa, nos bares nobres da capital.

Pois é, caros leitores, entretanto não é de hoje que jovens ricos, com alta escolaridade, inseridos em famílias bem estruturadas e cheios de dinheiro de envolvem em atos criminosos. Seja no tráfico para manter os altos gastos ou o próprio vício; seja em atos de vandalismo e de transgressões sociais diversas como se donos do mundo e alheios a quaisquer julgamentos – judiciais, sociais ou dos próprios pais.

Mas o que está havendo com esses jovens que até pouco tempo eram apenas meninos mimados agarrados à barra da saia da mãe? Ora, jovens de todas as idades (mais ou menos) sempre estiveram envolvidos em atos criminosos. A diferença é que antes não eram alvo da imprensa – hoje há as redes sociais a pautarem os veículos – e nem da polícia – hoje a cobertura jornalística faz com que a população cobre punições.

De todos os casos recentes de atrocidades cometidas por jovens ricos, como a Suzane Richthofen, depreende-se que muitas crianças – cada vez mais – têm sido criadas para valorizar o TER em detrimento do SER. Acreditam poderem tudo, afinal têm tudo.

Consideração, respeito e hombridade não sabem o que são e sequer sabem que devem saber o que são.

A própria sociedade os valoriza. Valoriza aquele que não é educado, pois o educado é “mulherzinha”; valoriza aquele que destrata as mulheres, pois os homens devem “pegar” várias mulheres, devem ser “raparigueiros”. Valoriza aquele que nasce em “berço esplêndido” e não o trabalhador que madruga para “ganhar o pão de cada dia”.

Enfim...

Com certeza não é a classe social que define quem será criminoso, mas também não é a falta de estudo, mas em muitos casos é a falta de educação – educação doméstica, educação social.

Muitos jovens hoje não reconhecem nos pais suas referências, estes já não têm tempo e nem disposição para educar e transmitir exemplos aos filhos. Todos cada vez mais egoístas e individualistas.

E a sociedade achando tudo muito bonito e conveniente.

Dizem que os jovens ricos agressores de irmãos indefesos na orla monitorada 24h por câmeras de vigilância não tiveram motivos para as agressões, mas também não tiveram medo de punições.

Será que os pais vão puni-los? Antes mesmo do Estado agir, os pais agirão? Os pais reprovam esse comportamento? Ou acham que isso é “coisa de jovem”?

Que casos como esses sirvam de exemplo aos pais e educadores de uma forma geral, criar crianças é educar com atenção, com carinho, mas com pulso. Filhos erram e precisam dos pais para orientá-los, não para justificá-los.

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