2012: um ano que não deixa saudades

30/12/2012 11:14 - Geral
Por Candice Almeida

O ano de 2012 já começou marcando época.

Logo em janeiro deste ano, Alagoas e o Brasil pararam para assistir ao julgamento mais esperado desde 1998, quando ocorreu a Chacina da Gruta vitimando a deputada federal Ceci Cunha e seus familiares. A expectativa em torno do julgamento se justificava pelo fato de um dos réus também ter sido um deputado federal e, por mais que os crimes de mando sejam marcas indeléveis do passado alagoano, ver um político no banco dos réus, sendo julgado por um Júri popular, era algo inimaginável há poucos anos e uma oportunidade imperdível para os alagoanos se sentirem, enfim, amparados pelo manto da Justiça.

Entretanto, o momento que pareceu histórico para a Justiça em Alagoas, não representou evolução no campo da segurança pública. Muitos ficaram estarrecidos com as notícias acerca do atentado sofrido por Nivaldo Albuquerque, filho do Deputado Estadual Antonio Albuquerque, atingido por disparos de arma de fogo em sua fazendo na cidade de Limoeiro de Anadia. Até então não se imaginava que bandidos comuns (e não bandidos com motivações políticas) seriam capazes de ameaçar políticos históricos em Alagoas.

O crime já não tinha os limites impostos pelo passado.

Os alagoanos continuaram assistindo impávidos ao crescente número de assassinatos, às greves constantes de médicos legistas em face das péssimas condições de trabalho, assim como dos já previsíveis roubos a caixas eletrônicos, bancos, lotéricas e correios (estes, em atitude pioneira, resolveram manter a fila de atendimentos do lado externo dos estabelecimentos, como forma de preservar a segurança dos funcionários – medida nada popular).

Em maio, os alagoanos experimentaram o pior dos sentimentos sociais com a revolta pelo assassinato do médico Alfredo Vasco, em plena praça Vera Arruda, enquanto passeava de bicicleta num fim de tarde, às vistas de inúmeras testemunhas, dentre elas crianças. A comoção foi tanta que maceioenses tomaram a avenida da orla dos bairros de Jatiúca e Ponta Verde para pedir segurança. Como resposta, no final de junho o Governo Federal lançou em Alagoas o Programa Brasil mais Seguro, ainda como projeto piloto. Apesar de o programa prever o videomonitoramento desde então, só este mês (dezembro) foi efetivamente implantado.

Os números (ao menos os oficiais) têm informado que o programa tem dado resultados: menos mortes (?!), mais prisões. A 17ª Vara Criminal – a face do Judiciário mais exposta no combate à criminalidade – sofreu um baque com seu “esvaziamento” pelo STF, todavia, parece que as coisas por lá continuam as mesmas. Suas medidas, apesar de questionáveis constitucionalmente, seguem populares para os Alagoanos.

Bárbara continua sumida

Alagoas continua o estado onde mais se é morto no Brasil

As operações policiais em consonância com o Ministério Público e o Judiciário ganharam ainda mais destaque no Brasil. Em Alagoas foram mais de 300 pessoas presas por envolvimento em organizações criminosas. O número é interessante, mas pouco diante dos quase 2000 assassinatos deste ano.

O caos na segurança pública não escolhe vítima, em ônibus, taxis, carros, rua, casa... Nada mais é seguro. Mata-se cobrador e taxista, mata-se ciclista, todos podem morrer por causa de qualquer “troco” ou qualquer gesto.

O maior culpado é o “crack”. Em resposta, o programa “Crack, é Possível Vencer” do Governo Federal foi implantado em Alagoas, ao menos houve festa para anúncio de sua implantação, mas resultados práticos não foram publicados e nem anunciados em eventos festivos.

Doutra banda, nada é mais indiscutível do que a certeza de que a educação é o caminho mais seguro para o convívio social pacífico, para a evolução da sociedade, o amadurecimento dos alagoanos e agentes políticos mais competentes e comprometidos com políticas públicas de resultados efetivos. Entretanto, Alagoas – líder dos piores índices sociais – parou o ensino público para reformas estruturais de urgência (plausível e justificável diante dos tetos que caíam sobre alunos e professores), mas que não se afiguraram urgentes, exceto pelas dispensas de licitação, enquanto se arrastaram durante todo o ano em muitas escolas estaduais.

escolas que já anunciaram que o ano letivo de 2012 será em 2013. O que se espera de tal medida? A certeza de que as cotas ampararam esses alunos quando do seu ingresso nas universidades no futuro? Pois é, este também foi o ano das cotas, a ideia é minimizar as diferenças sociais e o histórico ranço racial, talvez os argumentos sejam indiscutíveis, lamentável é que não se esforcem tanto no ensino fundamental e básico para equivaler a qualidade do ensino público ao privado. Seria mais fácil e cômodo, simplesmente, a “reserva de vagas”, num prenúncio para o futuro de “reserva de mercado”? Ah, ninguém torce pelo quanto pior, melhor! Apenas são apontadas as falhas numa tentativa “desesperada” de alerta à sociedade sobre o que esperar do futuro diante deste presente.

Por falar em escolas, perguntam sobre a reconstrução das diversas escolas espalhadas pelas cidades vítimas das enchentes de 2010. Afinal, passados dois anos e meio quantas escolas foram recuperadas/reconstruídas e entregues aos alunos?

Por falar em reconstrução, este ano, enfim, o governo estadual entregou mais casas, ao menos é o que tem sido noticiado pelas agências de notícias (tentei contato para saber o número total de casas entregues, mas até agora nenhum retorno).

Passamos ainda pelas eleições municipais, marcada por uma disputa estranha, tantos candidatos e um vitorioso em primeiro turno. Estarrecemo-nos com as notícias de venda de votos. Num momento em que ninguém esperava nada pior que a compra de votos, eis que aparecem eleitores dispostos a leiloar suas consciências.

Os alagoanos se surpreenderam com os altíssimos investimentos nas diversas campanhas à presidência da OAB em Alagoas, assim como puderam assistir e concluir por si os diversos motes que incentivaram ações tão questionáveis e repudiadas em eleições gerais.

Por fim, tais palavras não visam trazer à lume tudo o que Alagoas e os alagoanos viveram em 365 dias – seria impossível –, mas tão somente despertar suas consciências acerca do que estariam fazendo e vivendo enquanto tudo isso ocorria?

O que vocês têm feito pelo futuro de nossa sociedade? Que cidadãos vocês foram este ano e que cidadãos pretendem ser? 

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