Prefeitura esquece cultura local e paga caro por show gospel

15/12/2012 04:17 - Maceió
Por Redação
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Maceió é a mais bela capital brasileira. As praias calmas, com águas cristalinas e areia clara, deixam o visual ainda mais deslumbrante para qualquer turista que desembarque nas terras do Nordeste. Além dos encantos das belezas naturais, a cultura da capital é o patrimônio marcante que vai desde os grandes folguedos às mais diversas manifestações artísticas de destaque. Sejam nos bordados das rendeiras do Pontal, ao colorido do Pastoril e Reisado, a cultura popular é rica e atrai os olhares e a curiosidade dos visitantes.

No entanto, apesar da história viva que pulsa na capital, a comemoração do aniversário de Maceió será focada de maneira inusitada.

O palco montado no estacionamento do Jaraguá será destinado ao show gospel da banda Diante do Trono, a partir das 20h deste sábado, dia 15 de dezembro. A banda Diante do Trono foi formada em 1997, na cidade de Belo Horizonte (MG), e se tornou o maior conjunto gospel da América Latina e um dos mais bem-sucedidos na música brasileira. No caminho de sucesso, já vendeu mais de sete milhões de cópias em CD e dois milhões em DVD. No comando do grupo está a cantora Ana Paula Valadão.

Os méritos são indiscutíveis para a banda, no entanto, o alto custo do show aos cofres públicos com a contratação do grupo poderia ser substituído facilmente por representações artísticas locais, com uma grande valorização do que é produzido em solo alagoano.

De acordo com valores pesquisados pelo CadaMinuto, um show da banda Diante do Trono não sai por menos que R$ 50 mil, isso sem incluir gastos com passagens, traslado, hospedagem e alimentação, o que fica por conta do contratante.

As homenagens a Maceió poderiam ser cantadas por artistas da terra. Eliezer Setton é uma das vozes mais marcantes do estado e interpretar canções na comemoração do aniversário da cidade seriam indiscutivelmente ainda mais especiais com a participação do artista. Outros tantos podem ser citados, como Junior Almeida, Mácleim, Elaine Kundera e as mais recentes revelações da música popular, Kel Monalisa (participante do Ídolos), Desa Pauline e Millane Hora.

O funcionário público, David Lima, defende que o aniversário de Maceió, deveria sim ser celebrado estimulando e fortalecendo os talentos locais. “Maceió é um celeiro cultural. Temos muitos artistas reconhecidos em território nacional e até internacionalmente. Seria muito bom valorizar os talentos da terra. Poderia até haver um festival de música. Isso sim seria uma forma de presentear os alagoanos e valorizar nossos artistas”

Aniversário comemorado com atraso

O povoado que deu origem a Maceió surgiu em um engenho de cana de açúcar, por volta de 1.609 - data de sua fundação. Maceió vem da língua tupi, das denominações "MAÇAYÓ " ou " MAÇAIO-K " e quer dizer "aquele que tapa o alagadiço", talvez pela abundância de águas por todos os lados e a constante subida e descida das marés.

Diz a história que o povoado de Maceió tinha uma capelinha em homenagem à Nossa Senhora dos Prazeres, bem onde hoje está a Igreja Matriz, na Praça Dom Pedro II. A emancipação política de Maceió aconteceu no ano de 1817. O desenvolvimento do povoado foi impulsionado pelo porto de Jaraguá, sendo desmembrado da Vila das Alagoas em 05 de dezembro de 1815, quando D. João VI assinou o alvará régio.

A discussão ainda é grande sobre a verdadeira data que do aniversário, 05 ou 09 de dezembro. Mesmo assim, a prefeitura decidiu, com uma semana de atraso comemorar o dia. Muitos historiadores criticaram a posição dos gestores, ao acreditarem que há uma modificação da identidade do povo.

O sociólogo Sávio Almeida analisou o atual cenário e fez uma breve lembrança do veto da prefeitura, através da Secretaria Municipal de Controle e Convívio urbano (SMCCU), que limitou as ações promovidas por grupos da matriz africana.

“O que fizeram com os grupos africanos deixa claro que não estão preocupados com a questão cultural. Não dá para generalizar, imaginando que as datas festivas não serão respeitadas, acho que é um problema de gestão mesmo. Realizar a festa da prefeitura em dezembro, janeiro ou fevereiro, tanto faz para os gestores”, disse.

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