Barbárie Institucionalizada

29/11/2012 12:28 - Geral
Por Candice Almeida

Que Alagoas detêm os piores índices sociais do Brasil, e alguns dos piores do mundo, já não é novidade. As mazelas do mundo têm origem na falta de educação de qualidade, na falta de emprego e na necessidade de crescimento individual que a humanidade nutre, independentemente do local onde resida.

Valores incutidos na sociedade moderna contribuem para o concurso entre semelhantes, disputando espaços que podem ser ocupados por muitos, senão por todos. As ideias Darwinianas, de “animal” melhor adaptado ao meio e de que apenas os fortes sobreviverão, são máximas hoje inseridas no comportamento humano, mas com o diferencial de que vale tudo para permanecer “vivo”, desconsiderando o “preço” que será cobrado e quando a “fatura” será apresentada.

Temos assistido impávidos às incursões militares nas áreas de maior criminalidade. Policiais muitas vezes despreparados, até apavorados, são levados a subir morros, descer grotas, invadir casas, encarar no punho, arma, cassetete ou choque, pessoas indiscriminadamente, em nome de um “bem maior” – a Segurança Pública.

Há alguns meses, na época de implantação do Programa Federal de Segurança Pública em Alagoas (projeto piloto no país – “Programa Brasil mais seguro”), os noticiários mostraram que um “erro de cálculo” levou um grupo de militares a invadir a casa de um sociólogo, professor universitário, negro, de forma truculenta, desrespeitando os princípios básicos constitucionais e de direito penal e militar.

Há poucos dias, Alagoas voltou a ser notícia no país depois que imagens foram divulgadas de uma ação policial no bairro do Trapiche, onde militares aparecem agredindo um grupo de pessoas. A Corporação reconheceu o abuso e deve investigar a ação.

No Paraná, também há poucos dias, uma ação policial atroz deixou diversas pessoas de uma mesma família feridas, as vítimas eram da periferia e nem deficiente físico ou idoso foi poupado. A população revoltou-se e a solução encontrada pela polícia foi recolher todos e agredi-los num espaço apartado. Com qual finalidade? Ainda não descobri.

Mas o que todas essas ações têm em comum? Seja em Alagoas ou no Paraná, nossos policiais sofrem do mesmo mal “lombrosiano”. Parece que, para eles, criminoso tem rosto, tem biotipo, e se satisfazem com os rótulos de preto e pobre.

As situações são distintas, as pessoas são bem diferentes, os estados são bem distantes, o pobre daqui não é como o pobre de lá e nem o negro de lá é como o negro daqui, mas o desrespeito aos direitos humanos, às garantias constitucionais fundamentais, é o mesmo.

Os alagoanos (e brasileiros) querem o fim da criminalidade, querem voltar ao tempo em que caminhar nas ruas ou estar no sossego de casa eram situações seguras. Mas a que preço? Não devemos esquecer que quando admitirmos que os direitos de uns sejam violados – hoje são, ainda, dos pretos e pobres – assumimos as consequências de nossos atos e, amanhã, quando os nossos direitos ou de nosso vizinho forem violados, com que coerência tomaremos as ruas e pediremos respeito?
 

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