Enchente de 2010 deixou marcas piores do que imaginamos

16/06/2012 04:32 - Geral
Por Candice Almeida


Depois de alguns dias de chuva torrencial na cabeceira dos rios Una e Sirinhaém, em Pernambuco, o nível dos rios alagoanos Mundaú e Canhoto (Canhotinho) subiu rápida e vertiginosamente. A enxurrada atingiu mais de vinte municípios alagoanos, deixando mortos, desaparecidos e milhares de desabrigados.

O alagoano, até então acostumado às mazelas da seca sertaneja, no ano de 2010 teve que enfrentar o frio, as doenças, as mortes e a falta de condições básicas para a sobrevivência digna por causa do excesso de água, que por onde passou deixou destruição e sofrimento.

A comoção foi tanta que em poucas horas alagoanos, nordestinos e brasileiros dos mais diversos estados iniciaram uma corrente de solidariedade para ajudar os flagelados.

Em face da cobertura que a imprensa fez da tragédia, doações chegaram de toda parte do mundo. Países estrangeiros e organismos internacionais demonstraram solidariedade enviando alimentos, roupas, medicamentos e dinheiro para ajudar a diminuir o sofrimento do povo alagoano. Só a Venezuela enviou cerca de oito toneladas de alimentos para Alagoas.

 

Como forma de prestar contas à sociedade que se mobilizou, que se solidarizou e se entristeceu com a história de muitos alagoanos desesperançados, um grupo de blogueiros há um ano percorreu quatro municípios cortados pelos rios Mundaú e Canhotinho, com a finalidade de relatar como estariam vivendo os sobreviventes da enxurrada de 2010.

Confirmando o que vinha sendo noticiado timidamente por pontuais meios de comunicação, verificamos que a tragédia tinha deixado marcas muito maiores que as perdas materiais e até humanas, aquela enchente deixou milhares de famílias sem dignidade.

Viviam amontoados em barracas de lona (doadas por organismos internacionais), sem condições mínimas de higiene ou salubridade, quentes como fornos, sem esgoto ou água encanada, e com a distribuição racionada de água. Mesmo com o fornecimento de três refeições diárias, aquelas pessoas não haviam passado por tratamento psicológico e nem haviam recebido condições para serem reinseridas à sociedade e ao mercado de trabalho. Foram alojadas em descampados “seguros” (de novas enchentes), mas próximo a espaços historicamente ligados à marginalização.

Assim, bolsões de miséria se multiplicaram nas regiões mais atingidas pelas enchentes. A rixa política acabou pautando muitas das ações de resgate da dignidade dessas pessoas e a ausência do poder público contribuiu sobremaneira com a criminalidade e a marginalização.

A busca por alternativas de sobrevivência por meio das drogas também foi algo constatado. A falta de saúde, de educação e de trabalho nos mostrou crianças brincando na lama, ladeadas por dejetos humanos que circundam os becos fétidos por todo o acampamento, e adultos desocupados, preocupados com sua própria existência, ainda que indigna.

Como resultado dos diversos textos produzidos, a imprensa local e nacional foi alertada para as condições subumanas em que viviam aqueles flagelados. Com a participação dos meios de comunicação as instituições políticas não puderam continuar silentes e passaram a ser cobrados sobre velocidade na solução do problema.

As casas que estavam sendo construídas a passos lentos e bem espaçados passaram a ter como meta um cronograma mais condizente com os anseios basilares daquelas pessoas. Muitas já foram beneficiadas com as primeiras casas, mas outras milhares de famílias ainda aguardam o teto prometido.

Para manter os alagoanos e brasileiros atualizados sobre como estão vivendo os sobreviventes das enchentes de 2010, e evitar o uso eleitoreiro da entrega das casas, o mesmo grupo de blogueiros, e outros que se sintam interessados em participar, em breve voltarão aos municípios visitados há um ano e outros mais. Com isso pretendemos agradecer a solidariedade de todos que, num dos momentos mais trágicos da história do povo alagoano, se uniram para nos ajudar.

O poder público tem obrigação não só com os flagelados e os alagoanos, mas com todos os que despenderam tempo, dinheiro, atenção, alimentos e toda sorte de solidariedade com seus filhos.

A generosidade humana é algo tocante e deve ser estimulada, para tanto façamos também a nossa parte, dando exemplos e contribuindo para amenizar o sofrimento dos desvalidos.

Em paralelo não deixemos de fiscalizar e cobrar de quem tem a obrigação de cuidar de todos nós.

 

Esclarece-se:

Foi constatado que o nível de descaso com os flagelados variava de município para município, razão pela qual o texto acima deve ser interpretado em sua generalidade e não especificidade. Veja aqui.

Este fim de semana, por razões diversas a visita aos municípios não pode ser realizada, mas em breve será, momento em que as impressões serão relatadas e os leitores poderão saber da real situação como vivem tanto quem já recebeu sua casa, como quem ainda aguarda.
 

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