Mais um inocente é vítima da inoperância estatal

10/06/2012 18:30 - Geral
Por Candice Almeida

Novamente os alagoanos se veem estarrecidos com mais uma morte banal, desta vez um garotinho entre 10 e 11 anos de idade, filho de um carroceiro, que acompanhava o pai, quando foi assassinado à queima-roupa por um motorista insatisfeito com a lentidão da carroça para subir uma ladeira.

A briga que se iniciou com uma discussão de trânsito, logo evoluiu para um crime hediondo, homicídio qualificado. Note-se que não estou aqui condenando acusado algum, até porque o que se sabe é que nada se sabe sobre o malfeitor*.

O motorista impaciente, perigoso e perverso atacou pai e filho, simplesmente, porque estavam numa carroça, sim, veículo tracionado por um cavalo, não por vários, como os veículos automotores, e destinado basicamente ao trabalho.

Incrivelmente o carro do assassino ninguém sabe qual é e a pessoa ninguém sabe identificar, mesmo todo o sinistro tendo ocorrido a alguns metros de distância de um Batalhão da Polícia Militar de Alagoas, na ladeira do Jacintinho – conhecida como “ladeirão do óleo”. Batalhão este que, há alguns dias, um juiz denunciou o número de veículos parados em seu pátio, cerca de onze viaturas.

Pois é, caros leitores, mais uma vez – não a primeira e nem a última, infelizmente – um inocente morre pelas mãos covardes de uma pessoa inadvertidamente armada, e mais uma família é destroçada pela dor e pela perda de uma criança.

Esse menino não foi morto pelo tráfico, nem por assaltantes; ele foi morto pela maldade, pela impunidade, pela insegurança, pela inoperância estatal. E o que fazemos?

Bem, nós não fazemos nada, claro. O que faríamos? Vamos às ruas protestar novamente? Parar o trânsito e ainda ser motivo de chacota daqueles que nem gastam sola de sapato e ainda reclamam porque a classe média só vai às ruas quando morre um dos seus?

Não, meus caros leitores, vamos parar de cobrar da população o que tem que ser cobrado de quem foi eleito para isso, de quem se candidatou e venceu as eleições com o compromisso de combater a violência. São estas as pessoas que devem ser cobradas. Aquelas que recebem verbas federais para tanto e não apresentam respostas.

A população, em protesto, pode se mobilizar e tomar as ruas, mas deve ter consciência que não deve apontar para o vizinho que não o fez no passado e que agora resolveu dar as mãos. A cobrança não deve ser dirigida à população, que ainda que tenha errado no voto, votou porque acreditou em promessas que não são cumpridas.

O sistema adotado pelo poder público para combater a violência e as suas causas é falido, alguém duvida? O governo estadual admite isso ao pedir intervenção na segurança pública ao governo federal. Mesmo alardeando a intimidade entre ambas as esferas, inclusive levando para o âmbito pessoal, o governo federal tem o evento internacional que ocorre no Rio de Janeiro como mais importante, acarretando num dos maiores contrassensos já testemunhados: O Brasil tem o Rio de Janeiro como a capital mais segura durante a Rio+20, enquanto em Maceió incontáveis vidas são ceifadas diariamente, corroborando a pecha de cidade mais violenta do país.

E, então, leitores. Cobraremos de nós mesmos, de nossos vizinhos, de nossos amigos nas redes sociais? Ou cobraremos daqueles que foram eleitos para isso? Usemos as redes sociais, saíamos às ruas, gritemos e esperneemos, mas direcionando nossa insatisfação a quem tem obrigação de resolver. E nem venham com a conversa de que “é muito fácil falar”. Sim, é sim, e enquanto cidadãos e eleitores temos mesmo que falar e cobrar, o que não podemos é nos conformar e esperar a morte que já está a nossa espreita.

Os alagoanos estão com medo, e isso não é terrorismo oposicionista e nem da imprensa sensacionalista. Ninguém tem orgulho de ostentar os índices que sustentamos, não só na segurança, mas na educação, saúde, transporte público, desenvolvimento humano, mortalidade infantil, tudo.

Se o sistema implantado na segurança pública não funciona, troquem-no, chamem uma nova equipe, a melhor do país, mas façam algo. Se optam por manter o sistema que aí está, com as pessoas que o conduzem, que prestem contas, justifiquem tal decisão.

O que não é possível é o silêncio de todos diante da morte de inocentes. A futilidade e a torpeza têm ditado ações criminosas e isso se dá por desordem pública. O governo federal, instado a ajudar, não poderia – jamais – preterir seus “filhos”, os alagoanos, em favor de um evento.

Até quando financiaremos, através de impostos, a inoperância estatal?
Queremos respostas!!

 


Esclarecimento:
- Peço desculpas o tom de desabafo do texto, mas a indignação não pode ser contida.

*palavra corrigida por um internauta. Obrigada!

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