Números da violência em Alagoas

31/05/2012 12:18 - Geral
Por Candice Almeida

Os números que cercam Alagoas e sua violência são assustadores. O crescimento é vertiginoso. Enquanto o país investia em políticas públicas de recuperação de áreas marginalizadas e em repressão e prevenção policial. Alagoas, digo, os administradores do estado quedaram-se inertes.

No ano 2000 Alagoas sustentava a 11ª colocação no ranking dos estados mais violentos do Brasil, ficando atrás de Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Pará, Roraima, Rondônia, Amapá, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal.

Em 2005 ocupamos a 4ª colocação e já em 2006 assumimos a ponta. Há, pelo menos, cinco anos Alagoas é o estado mais perigoso da federação. O crescente número de homicídios choca não só os alagoanos, mas também organismos internacionais, ao ponto destes se voltarem para as razões de tal mortandade.

Em janeiro deste ano (2012) foi divulgado o ranking das 50 cidades mais violentas do mundo em 2011, e qual a nossa surpresa: Maceió, nossa belíssima capital, figura na terceira colocação, perdendo apenas para cidades do México e de Honduras.

Segundo dados oficiais do estado, os bairros com maior número de homicídios registrados em 2009, respectivamente, foram: Tabuleiro dos Martins, Benedito Bentes e Vergel do Lago.

Só em 2012 foram noticiados 837 homicídios. Número este que apesar de chocante pode ser, e provavelmente é, bem maior. Este é apenas o número de homicídios que virou notícia e por isso foi veiculado nos meios de comunicação.

Em apenas 5 meses já são mais de oitocentas mortes violentas em Alagoas. Tombaram homens, mulheres e crianças numa guerra invisível. Sonhos foram interrompidos e sobreviventes tiveram suas vidas mudadas; ceifaram a vida de centenas de alagoanos e banharam de sangue não só as grotas, as vielas e os córregos, mas todo o estado, suas praias, seus monumentos, suas escolas, institutos, prédios, seus bairros nobres, tudo.

Acostumamo-nos a números, estatísticas, comparações intangíveis, abstrações e simplesmente nos resignamos, o que conforta o poder público.

No entanto, por trás desses números assustadores, mas meros números, há nomes, sobrenomes, histórias, amores, tristezas, exemplos, amizades...

Quantos heróis não se foram? Policiais militares e civis, bombeiros, guardas municipais, agentes, que no exercício da função ou simplesmente por sua condição de servidor público, foram mortos, executados sem direito à defesa, sem direito à reação...

Quantos médicos, professores, advogados, enfermeiros, jornalistas, motoristas de ônibus, taxistas, estudantes, ricos, pobres, negros, brancos, amarelos, não podem mais conviver com seus familiares?

Quantos filhos ficaram órfãos? Quantos maridos e esposas perderam seus companheiros? Quantos amigos se perderam?

Não podemos nos acomodar à frieza matemática das estatísticas, principalmente porque números podem ser facilmente manipulados, mas vidas não. Histórias não somem, não evaporam no ar.

O café da manhã sem a mãe, o almoço sem o filho, o aniversário sem o pai e o dia a dia acompanhado pela dor da saudade que insiste em não deixar respirar – nada disso pode ser mensurado em números.

Alagoas não é lógica, nunca foi. Alagoas é composta de pessoas, seres humanos dotados de sentimentos e capazes de criar laços e vínculos que vão além das políticas públicas de educação, saúde e segurança, mas que estão sendo exterminados pela arma nas mãos erradas.

Os principais culpados são os mesmos: o passado de ausência de políticas públicas e o presente de inércia estatal. Mas não podemos permitir que o futuro também seja culpado, e o futuro começa hoje.
 

 

Fontes Pesquisadas: Mapa da Violência 2012; ONG Seguridad Justicia y Paz do México; Portal de Notícias Alagoas 24 Horas; Anuário Estatístico do Estado de Alagoas (Por SEPLANDE).

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