A inoperância estatal faz mais uma vítima

28/05/2012 07:58 - Geral
Por Candice Almeida

Dr. José Alfredo, na condição de médico otorrinolaringologista, cumpria seu juramento com abnegada dedicação: “(...) consagrar a minha vida a serviço da humanidade (...)”, dedicando-se a fazer o bem, curando doenças e salvando vidas.

Assassinado brutal e friamente na orla da capital alagoana enquanto praticava seu ciclismo diário, por meliantes que – diante das estatísticas criminais – devem ser dependentes químicos – sem disfarces, à luz do dia de um sábado à tarde; às vistas de crianças, mulheres e quaisquer transeuntes.

A vítima, desta vez, foi um médico. Um homem que dedicou sua vida a salvar vidas. Um pai e avô amoroso. Um amigo dileto. Mas, mais importante, uma pessoa comum. Dr. José Alfredo não verá sua neta crescer, seus filhos amadurecerem e nem Alagoas ser mais justa, assim como tantas outras vítimas fatais da ausência do Estado na Segurança Pública.

A indignação que tomou todos os alagoanos, em especial os maceioenses, foi maior pela banalidade do crime. Mas quantos outros crimes banais são cometidos diariamente? Os bandidos queriam a bicicleta da vítima e sequer lhe deram a chance de entregar o inexpressivo bem, ao menor gesto foi disparado o tiro fatal contra suas costas.

Na conta destes bandidos mais um crime, na conta do estado mais um número, na conta dos alagoanos mais uma chaga aberta.

Alagoas figura entre os estados com os piores índices de criminalidade do mundo, a grande Maceió já tem seus números comparados aos de localidades em guerra civil. Mas não foram poucas as vezes em que ouvi de representantes do Estado que essas informações eram fantasiosas, e que isto resultava de uma campanha difamatória e terrorista da imprensa local.

Lamentável atitude, uma vez que essas informações não são locais, sequer são nacionais, elas são globais. Mesmo que se discuta o que levou o Estado de Alagoas aos patamares atuais de criminalidade, é inegável que a situação em que nos encontramos é a pior já vivida por esse estado.

Ainda que os números sejam uma crescente desde que o coronelismo feudal cedeu lugar ao respeito basilar aos preceitos constitucionais de abolição da tortura, do julgamento sem defesa prévia e do fuzilamento ao arbítrio do algoz, nada justifica a inoperância atual.

A segurança pública em Alagoas não existe, sabemos que não é de hoje, mas até quando isso será justificativa para adiar a tomada de atitudes eficazes? O atual governo já está em seu segundo mandato, e até quando optará por culpar gestões passadas pelo caos atual em lugar de cumprir sua obrigação de “dar jeito”?

Contrariamente, o que se vê é o sistema de segurança pública completamente falido. O IML não consegue realizar os exames a contento, os policiais civis não conseguem investigar, os policiais militares não conseguem assegurar a ordem pública. Falta tudo. Desde armas, coletes, munição, viaturas, pessoas, treinamento, até alimentação.

Desde a operação espectro, aquela que desbaratou uma rede de corrupção dentro da SDS, que falta alimentação nos batalhões militares, inclusive os regimes de escalas têm sido adequados aos horários das refeições, como se bandido só atuasse em horário comercial.

Enfim, as mazelas são muitas, inclusive é extremamente dispensável que este espaço seja usado para apontá-las, elas saltam aos olhos, mesmo dos mais desatentos. Surpreendentemente, só não estão claros para quem pode resolvê-los.

Argumenta-se a falta de dinheiro para tudo, alude-se sempre ao caos encontrado nas contas públicas quando o atual governo assumiu seu primeiro mandato. Mas as contas já estão ajustadas, se não fosse assim não seria tão fácil realizar tantos empréstimos, dinheiro este que chega, ao menos é anunciado, mas que não é empregado onde se deve.

Aliás, onde é empregado esse dinheiro? Escândalo após escândalo o dirigente maior desse estado opta por apoiar seu secretariado em vez de cercar-se de pessoas que comprovem capacidade de gerenciamento.

Enfim, esta Pensata que em seu fundamento vem para inspirar os leitores a assumirem seu papel para uma sociedade mais igualitária, hoje, em homenagem aos familiares de todas as vítimas da criminalidade alagoana, abre espaço para uma cobrança veemente.

Basta de criminalidade, de mortes banais, de lágrimas!

Não queremos justificativas, queremos resultados!
 

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