Estaleiro EISA: A subordinação do poder político ao poder econômico

25/12/2011 20:08 - Fleming
Por Redação

Por Alexandre Fleming

A relação entre poder econômico e poder político impera em certas regiões do país. Existe quem afirme que tal relação é intrínseca e permanente, sempre subordinando o poder político aos interesses econômicos de determinados setores sociais. Aliás, o tema é recorrente em inúmeros estudos e debates acadêmicos, nos quais se procura delimitar o espaço de cada esfera do poder numa determinada relação social.

Sou partidário da posição que entende que tal relação é complexa, carrega inúmeras tensões e contradições. É permeada por mediações diversas nas quais nem sempre há uma linha direta entre os interesses do poder econômico e do poder político. Existem atores sociais e condições históricas específicas que permitem identificar e ocupar espaços políticos mesmo não mantendo relação direta com o setor econômico predominante, mesmo representando interesses distintos ao da elite local.

No entanto, de fato, a expressão/representação política no Brasil está, invariavelmente, ligada ao setor econômico predominante. Em Alagoas, tal relação é perceptível com bastante nitidez, não sendo necessário tornar-se doutor em qualquer área específica das ciências humanas para chegar a esse entendimento.

O Estaleiro Eisa é um exemplo perfeito desse confronto de interesses entre o poder político e o poder econômico. Inegavelmente, em que pese possíveis transtornos a uma parcela do ecossistema daquela região, a possibilidade de construção de um estaleiro na cidade de Coruripe levaria a grandes e inevitáveis mudanças sociais.

Fadada há anos a uma economia concentrada na cana-de-açúcar, na produção de coco e no turismo; conduzida politicamente de maneira conservadora, por vezes, truculenta, a cidade precisa alterar tanto a relação política quanto econômica. O povo de Coruripe espera o estaleiro, porém, sob forte boicote de determinados setores políticos/econômicos do Estado.

A possibilidade de abertura de mais de três mil postos de trabalho, com qualificação da mão de obra local e aumento da renda é bastante atraente socialmente. Ajudaria a modificar, enfim, a lógica nefasta da relação política/econômica em Coruripe.

A não ser assim, com a formação de uma nova estrutura econômica em Coruripe, não existe outro caminho para a construção de uma nova política.

Para conhecer a realidade não basta usar as percepções habituais. Tal qual afirmou Bertold Brecht: “Nada é impossível de mudar! Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo”.

Ps: Esse texto foi publicado inicialmente em 15 de fevereiro de 2011. De lá para cá por inúmeras vezes o Governo de Alagoas chegou a anunciar o início das obras do EISA, porém,  até o momento nada de estaleiro. Resta esperar para ver o que acontecerá em 2012 e quem falará mais alto: o poder político ou o poder econômico?

Estou no twitter: @fleming_al

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