Lixo Eletrônico: ações desenvolvidas no presente para evitar problemas no futuro

31/03/2011 06:20 - Maceió
Por Redação
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Você já imaginou um anel feito com as teclas de um computador? Ou bolsas confeccionadas com disquetes? E um robô de brinquedo, que seu filho pode se divertir, produzido com mouses? Todos esses objetos fazem parte da criatividade de artistas e que podem ser a solução para um problema que vem crescendo no país: o descarte de produtos eletrônicos.

Computadores, DVD’s, televisores, disquetes, celulares, baterias, pilhas são objetos indispensáveis na vida de qualquer ser humano do século XXI. O problema é que quando se tornam dispensáveis, a população que ainda não tem consciência ambiental, não faz idéia para onde e como eles devem ser descartados.

De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), as estimativas são de que 50 milhões de toneladas de lixo eletrônicos sejam geradas por ano no mundo. Esses números são ainda mais preocupantes quando o assunto se refere aos países em desenvolvimento.

O Brasil é considerado como o país emergente que maior quantidade de lixo eletrônico produz, um dado bastante preocupante, levando em consideração que poucas ações são desenvolvidas no país para impedir esse crescimento. Por ano são produzidos, cerca de 35 mil toneladas de lixos tecnológicos.

O que as pessoas desconhecem é que o descarte desse produto eletrônico pode interferir na vida do homem, gerando inclusive problemas a saúde. Isso acontece graças aos compostos químicos como chumbo, mercúrio, arsênico, cádmio, cobre, berilo, bário, cromo, níquel, zinco, prata e ouro. O descarte errado desse lixo - quando jogados nas ruas, aterro sanitário, ou simplesmente no solo - pode contaminar o lençol freático, ou até mesmo a atmosfera, afetando indiretamente a saúde das comunidades.

Solução pode está na reutilização do lixo eletrônico

O reaproveitamento desses equipamentos, tanto com a sua reciclagem como com a fabricação de produtos diferentes, é a solução que começa a ser construída por grupos, ainda pequenos, de pessoas. Além de destinar tais aparelhos para uma parcela da sociedade que não possui acesso ao meio digital, a produção de objetos para serem comercializados pode contribuir como alternativa para o problema do desemprego.

Em Alagoas, um projeto pioneiro tem recuperado equipamentos eletrônicos. 'E-tralha', como foi batizado, é desenvolvido há quase dois anos no Centro de Tecnologia da Informação em Saúde (Cetis) da Universidade de Ciências da Saúde (Uncisal). A ação, além de pensar no desenvolvimento sustentável, tem ainda como pilares a inclusão digital e a educação ambiental.

"A população não tem consciência do que um eletrônico jogado no lixo pode acarretar. Além disto, a recuperação destes equipamentos pode ajudar a diminuir o número de excluídos digitais, que em Alagoas, segundo dados do IBGE, chega a mais de 90% da população", explicou Eraldo Alves, analista de sistemas e coordenador. Ele lembra que o ‘E-tralha’ tem ainda como objetivo proteger a saúde pública da população dos resíduos tóxicos que podem ser liberados por esses equipamentos quando descartados na natureza.

O trabalho ainda caminha a passos lentos, quando levado em consideração a quantidade deste tipo de lixo que é produzido no Estado. Mesmo assim, neste pouco tempo de existência, a captação de equipamentos inutilizados já chega a cerca de duas toneladas. "Para se ter uma noção, pelo menos 50 monitores já foram recuperados e deverão ser destinados a escolas públicas, bibliotecas, associação, contribuindo para a inclusão digital e a não agressão ao meio ambiente", colocou o coordenador do projeto.

O analista faz questão de ressaltar ainda que muitas vezes aquilo que é tratado pela população como lixo pode ter uma serventia inigualável para outros. “Não podemos chamar esses equipamentos de lixo. Isso é um desperdício da população e vale ouro. Pode ser recuperado e ter um destino diferente dos lixões, aterros. Você pode contribuir para a preservação do meio ambiente e ainda para a inclusão digital”.

E-tralha

Ao chegar à sala onde funciona o projeto, a princípio pode-se achar que se trata apenas de um depósito de lixo. A pilha de computadores, teclados, placas-mãe e outros periféricos são tratados como ouro e reutilizados na construção de uma nova sociedade.

De acordo com Alves, o projeto está dividido em quatro etapas, sendo que destas, apenas duas já estão em prática. O primeiro passo é a captação deste ‘lixo’, como matéria-prima. A partir daí, as doações passam pelo projeto de recuperação. “Nossa idéia é uma oficina digital, cursos de montagens e manutenção de computadores para a rede pública. Os próprios alunos serão treinados para montar e desmontar os equipamentos”, disse.

A etapa final é a doação ou empréstimo desses computadores. “Muito melhor que serem jogados no lixo e trazerem prejuízos ambientais, seria a utilização destes computadores por estudantes. Mais de 50% dos laboratórios das escolas públicas estão parados por falta de manutenção. Uma solução simples para a inclusão digital”, colocou o coordenador do ‘E-tralha’. “O foco neste caso são associações de bairros, sindicatos. O compromisso firmado com eles é que caso seja danificado ou apresente defeito, sejam devolvidos ao E-tralha, evitando novamente o descarte inadequado”.

Quem tiver interesse em realizar as doações do lixo eletrônico pode levar ao prédio sede da Uncisal, no bairro do Trapiche da Barra, em Maceió, no período das 8h às 17h. Mais informações por meio do telefone 3315-6777.

Lixo eletrônico é jogado de forma errada

Saber onde deixar o lixo eletrônico é ainda um problema para a maioria das pessoas. A dona de casa Eliane Souza disse que pilhas e baterias de celulares estão amontoadas em casa, mas o local ideal para descartá-las ainda é uma dúvida.

“A gente sempre muda de celular, as baterias se desgastam e as pilhas têm um tempo de vida pequeno. Tudo isso vira lixo, e nunca sabemos o que fazer e nem onde jogar esse material”, alega a dona de casa.

Já a empresária e analista de sistemas Karinne Nascimento afirma saber dos prejuízos ao meio ambiente, mas salienta que falta uma organização das empresas referente a pontos de coleta. “Se eu juntar este tipo de lixo, onde devo levar? Isto deveria ser obrigatório para todas as empresas terem locais específicos para coletar este tipo de lixo. Não somente a população precisa se conscientizar, mas as empresas disponibilizando pontos para o descarte”, afirmou.

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) aprovou, em setembro de 2008, uma resolução que determina o recebimento de pilhas e baterias usadas por parte dos estabelecimentos comerciais, como supermercados, farmácias e outros postos de venda. Esses resíduos deverão ter um destino diferente dos demais lixos, ou seja, o descarte terá que ser feito de maneira ambientalmente correta, fato que pouco ocorre.

Lei aprovada

Foram 19 anos de tramitação até que o Congresso aprovasse e o presidente da República sancionasse, no final do ano passado, a Lei Nacional de Resíduos Sólidos. Com isso, a responsabilidade de empresas, fiscalização e punição tendem a aumentar, com o intuito de resolver a problemática do lixo.

Eliminar lixões e melhorar condições de aterros sanitários são algumas das muitas ações que o país precisa desenvolver para resolver os problemas relacionados aos dejetos. Ligado a isso, o lixo eletrônico entra ainda como uma questão que está intimamente ligada ao trabalho de conscientização da população.

A Lei 12.035, de 02 de Agosto de 2010, pode ser considerada uma revolução em termos ambientais. A Política Nacional de Resíduos Sólidos trouxe diversas inovações. Uma delas é a determinação de que fabricantes, importadores, distribuidores e vendedores tenha uma obrigação que vai além de vender o produto. Eles são responsáveis também pelo recolhimento de embalagens usadas.

Eraldo Alves acredita que mesmo com a aprovação da Lei, ainda existe um longo caminho a ser percorrido. "A problemática do lixo eletrônico em Alagoas está apenas começando. A fiscalização e punição devem ser ainda maiores. Mas é preciso também trabalhar a conscientização da população, sendo necessário entender que isso que chamamos de lixo é um desperdício", concluiu.

'É preciso mudar a cultura da população'

O Instituto do Meio Ambiente (IMA) é em Alagoas o órgão responsável em fiscalizar todas as ações do homem que, de alguma forma, possam trazer danos ao ecossistema. De acordo com Antônio Palmeira, gerente de licenciamento do IMA, a aprovação da Lei 12.035 foi um avanço na luta contra o descarte do lixo eletrônico, mas ainda existe um longo caminho a ser seguido.

"A própria lei aponta um prazo de 20 anos para sua aplicabilidade total, sua adequação ocorrerá de forma gradativa. Isto não será algo imediato. O IMA irá realizar um trabalho de educação nas residências, empresas, revendedores, lojas de assistência técnica, mas tudo isso demanda tempo", alegou.

Palmeira lembra ainda que alguns estados brasileiros já começaram a elaborar sua lei estadual em relação aos resíduos sólidos, e que Alagoas não ficará de fora. "No ano passado fizemos uma revisão em nossa Legislação Ambiental e isso aconteceu antes da aprovação da Lei. Mas agora com a Lei, vamos trabalhar de forma específica para a legislação aqui no estado", falou.

O representante do IMA colocou que descartar produtos eletro-eletrônicos no meio ambiente é descartar a própria vida. "Esses produtos têm metais pesados em sua composição. Eles estão na forma sólida, mas quando depositados no meio ambiente uma pequena parte vai se decompor e em contato com o solo, vegetação, rios ou mar liberam esses metais que podem causar danos a população".

Para o gerente, o comportamento da sociedade é um problema cultural, que precisa ser repensado. "A população hoje não consegue separar em casa o próprio lixo. É preciso mudar essa cultura no Brasil e saber destinar nosso os dejetos corretamente, incluindo os componentes eletrônicos, porque muitas vezes a população desconhece que em sua composição contém metais que podem prejudicar a saúde e acabam fazendo o descarte juntamente com lixo comum", finaliza Palmeira, colocando ainda que é necessária uma grande campanha de educação ambiental, de esclarecimento, para evitar que o lixo eletrônico não seja descartado de forma irregular em qualquer ambiente.

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