"Fazer justiça com as próprias mãos fortalece o crime organizado em Alagoas"

12/06/2010 02:33 - Maceió
Por Redação

A falta de investimento na segurança pública já vem sendo usada por muitas pessoas em Alagoas como justificativa para fazer justiça com as próprias mãos. A morte de supostos traficantes e assaltantes é comemorada pela população, que em alguns casos contribui para o desfecho trágico, a exemplo de um caso ocorrido no último dia 7, em que Erinaldo André de Oliveira, 40, foi assassinado pela vítima do assalto que ele tentou cometer junto com um jovem de 17 anos, que ficou ferido na cabeça.

A teoria de que ‘quanto mais bandidos morrerem melhor para a sociedade’ é questionada por especialistas, sob justificativa de que a sociedade pode caminhar para a barbárie com esse pensamento. Mas, segundo o sociólogo Paulo Décio de Arruda Mello, em Alagoas a cultura de violência vem se perpetuando e teve início ainda na época da escravidão, nos engenhos de açúcar e mais recentemente, com os coronéis da política, que usam a força para dominar os eleitores.

“É uma ilusão achar que no Estado há uma cultura de paz. Mas, com a queda do poder nos engenhos o poder público passou a ser responsável pela segurança da população, só que as autoridades não se prepararam. O aumento da violência já é uma tendência mundial e é fruto de um conjunto de fatores que devem ser tratados concomitantemente. Trata-se de medidas de controle permanente para que haja um resultado a médio prazo, como na educação”, ressaltou.

O sociólogo lembrou que a morosidade da justiça no Estado também contribui para a revolta da população e ainda, que novas situações, como o tráfico de drogas vêm intensificando a violência. “O problema com a justiça é antigo. Em Alagoas crimes passionais sempre foram cometidos em nome da honra. Recentemente o crack chegou e em uma sociedade pobre e desigual ele é ainda mais devastador”, lembrou.

Para ele, a ineficiência das polícias e a falta de ações preventivas geram na população uma reação em cadeia e as pessoas passam a ver o crime e a morte como algo natural. O sociólogo destacou que é preciso haver um serviço de inteligência e mais investimento na segurança pública para resolver os crimes. “As pessoas estão cansadas de se sentirem impotentes diante disso. É uma revolta natural, mas preocupante. São reações imediatas, mas em geral baboseiras do senso comum. Se não houver uma mudança de pensamento todos vão se transformar em bandidos, fazendo justiça com as próprias mãos", destacou.

Paulo Décio afirmou que violência só gera violência e ainda, que se trata de um círculo vicioso, que pode virar barbárie. Ele destacou que é preciso respeitar os critérios democráticos. “Se continuar assim em breve as pessoas não terão direito a defesa e a lei do mais forte vai imperar. Isso fortalece o crime organizado e o surgimento de milícias. Os jovens precisam de oportunidades de trabalho, cultura, esporte, lazer para evitar que agentes nocivos tenham um papel devastador. Não vai solucionar o problema se cada cidadão tiver um revólver”, ressaltou.

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